Narrativas fantásticas
A fantasia rege a criação visual da artista plástica Carla Barth. Sua poesia provém de um entendimento do mundo marcado pela predominância do fantástico. É instaurado assim um universo todo peculiar, regido pela capacidade de imaginar personagens e situações. Trata-se de um amplo visualizar cores e circunstâncias em que os sonhos e os contos de fada se cristalizam.
Catalogar as imagens como surrealismo ou arte naif é bastante limitador. Muito mais que um conjunto onírico ou ingênuo, o que a artista oferece ao observador é uma vereda repleta de pinturas, desenhos e esculturas unificadas talvez por um elemento primordial: a natureza. Ela surge de maneira muito expressiva, frondosa, com uma força visceral amazônica, embora não se proponha a se sobrepor aos personagens.
A riqueza das formas orgânicas tem um papel muito importante como criador de um cenário. Quando a família real portuguesa, por exemplo, é colocada nesse ambiente que lhe é inicialmente estranho e hostil, Carla mostra como a ironia e o humor caminham juntos em seu processo de composição das cenas. Acima de tudo, existe a preocupação plástica de sempre construir uma narrativa.
Ao contrário do que se pode pensar, essa busca não deixa o resultado final menos estético. Pelo contrário, Carla Barth ergue em cada uma de suas imagens um relato. Seus personagens dialogam com o espaço de diversos modos, tendo como força motivadora a habilidade no desenho e na pintura e a convicção de que saber contar uma história com técnica apurada proporciona uma linda e densa viagem.
Oscar D’Ambrosio, doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Mackenzie, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil).
Entre o Sonho e a Realidade
Por Marina Mantovanini
Arte naïf e pop são as palavras-chave para entender o trabalho da porto-alegrense Carla Barth. Apesar de seus quadros não se encaixarem categoricamente em nenhum dos dois estilos, a artista procura portas para criar uma conversa entre eles. Carla é contemporânea justamente por conseguir, de maneira erudita, trazer referências do imaginário folclórico e popular da arte naïf e misturá-las às influências de artistas oriundos do universo dos quadrinhos, como o gaúcho Jaca. Carla é uma compositora, cada pincelada sua cria cenários oníricos e ricos em cores, e a coerência em sua produção plástica faz com que ela já tenha um corpo de trabalho solidificado.
Entrevista publicada na +Soma 18/Jul-Ago 2010.
Por André Venzon
We have barely started to observe Carla Barth´s work and we already get very impressed by the world view of this artist who represents in drawings,paintings, panels and sculptures her own-created mytologhy, in a very personal world where anthropomorphic figures relate to each other in a playful atmosphere,mixing themselves like the multiple colors that fill all the spaces of her fantastic scenery.
Mal visualizamos os trabalhos de Carla Barth (São Paulo/SP, 1975) e já ficamos maravilhados pela visão de mundo desta artista que representa em desenhos, pinturas, murais e esculturas uma mitologia própria, onde figuras antropomórficas se relacionam em um jogo lúdico, misturando-se como as múltiplas cores e grafismos que preenchem todos os espaços compositivos das suas paisagens fantásticas.
Influenced by naif art, or primitive art- artistic trend known for not following academic canons- Carla is aware of the ingenuity and simplicity of her work, having as reference Van Dyck,Henry Rousseau and Tarsila do Amaral,among other artists.However,the childish aspects of her forms, which is not a hierarchical perspective,is pratically flat and differ with the scale presented, resulting in normally centralised compositions, revealing both enigmatic and funny scenes.
Influenciada pela arte naïf ou primitiva ― tendência artística caracterizada por não seguir os cânones acadêmicos ― Carla é consciente da singeleza e ingenuidade dos seus trabalhos, que tem como referências Van Dyck, Henry Rousseau, Tarsila do Amaral, entre outros. No entanto, os aspectos infantis das formas não hierarquizadas pela perspectiva, que é praticamente plana, ganham diferenciação pela escala em que se apresentam, resultando em composições geralmente centralizadas que revelam cenas ao mesmo tempo divertidas e enigmáticas.
Despite the color appeal that revolves everything- the artist is an excel in coloring- and those delicate creatures from her repertoire, largely inspired by popular art, Carla Barth´s work is possessed of an unusual strenght, attested by her portfolio, exhibitions,magazine articles and products with her creations stamped , but also of her technical quality and simbolic variety.
Apesar do apelo da cor que envolve a tudo e a nós mesmos ― a artista é uma exímia colorista ― e das criaturas delicadas do seu repertório bastante inspirado na arte popular, a obra de Carla Barth é possuidora de uma força invulgar, já atestada em seu currículo pelas inúmeras exposições e participações em revistas e produtos que estampam suas criações, mas também pela sua qualidade técnica e diversidade simbólica.
This creative power could be merely justified by the family enviroment she´s grown up-inside her parents´s studio in Porto Alegre, in which art became something natural in her life-however, her visual codes,as well as her contribuitions to the world of contemporary art, is situated in place for those who do not abdicate dream,illusion,amusement and imagery, and therefore her work is so unique,just because Carla Barth gives us back, with her oneiric and colorful universe, as unusual as distant, that one we only experiment in childhood dreams.
Esta potência criativa poderia ser simplesmente justificada pelo ambiente em que cresceu ― dentro do atelier dos pais em Porto Alegre no qual a arte tornou-se algo natural em sua vida ― porém os códigos visuais da artista, bem como suas ações no campo da arte contemporânea, a situam no lugar daqueles que não abdicam do sonho, da ilusão, da diversão e do imaginário e, portanto, sua estética encontra tantos receptores, porque Carla Barth nos devolve com seu universo onírico e multicolorido um prazer tão raro quanto distante, aquele que só experimentamos nos sonhos infantis.
André Venzon: artista visual, curador e gestor cultural. Coordenador da Galeria ECARTA.
Por Ana Zavadil
Carla Barth coleciona dados para a construção de painéis semânticos de imagens e informações sobre um determinado assunto que vão ser passados para seu trabalho: desenhos, pinturas, esculturas e murais. Os personagens de suas obras, realizados em cores chapadas, são criaturas cativantes do mundo da fantasia e da poesia. Não podemos deixar de perceber um diálogo com a pintura naif, como também com a pop arte (recontextualizada) e a influência das histórias em quadrinhos. Entretanto, a presença de todas essas referências não tira a sua capacidade de ser original e criar mundos de intensa beleza a partir de pesquisas, pois está sempre sintonizada no mundo contemporâneo em que vive.
A natureza, os animais e os personagens são colocados dentro de narrativas em que o humor e a ironia estabelecem rumos para o trabalho. O cunho onírico, a cor intensa, a linguagem estética de sua obra encantam e mostram uma certeza em seu trabalho e uma coerência que já indica um grau de maturidade de seu fazer artístico, demonstrado pelas várias publicações, participações em ex- posições nacionais e internacionais, além de produtos estampados com as suas criações.
Ana Zavadil (2013): Historiadora da Arte e curadora independente
Imaginário
Residencia artística "Ateliê Aberto" Campinas módulo IMAGINÁRIO | JANEIRO, FEVEREIRO E MARÇO DE 2015
Exposição Aldeia
0 imaginário, dito coletivo, é um grande reservatório de imagens, Sonhos, desejos, mitos, práticas rituais, onirismo e fantasias que atravessam as mentes, fortemente influenciado pela intuição e pelas emoções vividas pelos que integram uma comunidade ou grupo social. Mas o imaginário também envolve a cultura, códigos, normas, padrões de comportamento, ciência e tecnologia. A conexão entre estes fluxos de informações gera símbolos. Carla Barth é uma grande imaginadora e habilidosa artista, materializa seu imaginário próprio sob a forma de desenhos, pinturas, esculturas vestíveis, objetos, intervenções. Pesquisadora dos novos tempos, absolutamente consciente do poder da Internet, atua como uma incansável caçadora numa floresta do tamanho do mundo. Seu imaginário é alimentado por experiências pessoais, sejam elas resultado do acaso da vida ou estrangeiras, geradas em seu processo de pesquisa. Tudo o que gosta é impresso e anexado a alguma superficie não ocupada de seu ateliê. Carla se apropria destas imagens-retratos de familias e pessoas desconhecidas, figuras mitológicas e religiosas, cartões postais, ilustrações oriundas de estudos sobre animais, arte oriental antiga, fotografias de povos nunca vistos e paisagens inexploradas que passam a compor seu repertório visual e sua história. Inputs da máquina de sonhos que é a mente da artista.
Constrói se um universo único que, por ser confluência de refericias tão distantes entre si, é multi fragmentado em diversos mundos Como quem desvenda o obscuro, conta histórias com ares de mistério narrativas onde uma civilização oculta, formada por seres de corpos híbridos de humanos e outros animais, se diluem no horizonte da paisagem. A aldeia de Carla atrai o espectador de forma gentil e desperta uma estranha sensação de familiaridade e empatia. Por fim, Levi- Strauss pode ter razão ao afirmar que existe uma certa universalidade na mente humana.
Curadoria: Henrique Lukas, Samantha Moreira e Maíra Endo.